“Nascer, viver, morrer, tornar a nascer e
progredir sempre, tal é a lei”
(Kardec)
O Espiritismo é uma doutrina filosófica, com bases científicas e conseqüências morais. Visa, acima de tudo, libertar a criatura humana dos condicionamentos materiais, ritualísticos e também teológicos, para que possa crescer interiormente,
despertando a própria luz. As práticas espíritas são absolutamente gratuitas
e têm sempre a finalidade de fazer o bem, com amor e equilíbrio, sem imposições e sem condicionamentos.
A história da Terra mostra que tudo nela está em permanente evolução.
Antigamente ofereciam-se sacrifícios humanos aos deuses. Era a mentalidade da época, mas essa mentalidade foi mudando com o lento progresso da Humanidade, cedendo lugar a idéias mais desenvolvidas.
O cristianismo também trouxe novas luzes ensinando o amor, o perdão e a mansidão numa época em que a violência, o ódio e a vingança faziam parte da vida e da natureza do homem.
PERGUNTA NATURAL
No mundo atual, na era da ciência e da tecnologia, o pensamento religioso deve permanecer igual ao de dois mil anos atrás?
Na página sobre os fenômenos de Hydesville, vimos como o mundo ocidental foi despertado para a existência de uma dimensão espiritual.
Mas convém lembrar que essas não foram as primeiras ocorrências mediúnicas da história. Elas sempre estiveram presentes, sendo tão velhas quanto a própria Humanidade. A história está toda pontilhada desses fenômenos. A vida de Jesus, por exemplo, foi um contínuo contato com o mundo espiritual, desde aqueles obsessores, que foram intitulados demônios, até espíritos luminares, como aconteceu no monte Tabor, conforme explicado em outra pagina.
Na metade do século XIX, quando os homens já caminhavam na era da ciência e da tecnologia, era necessário abrir um pouco mais o leque dos conhecimentos tanscendentais, e eles chegaram através de inúmeros médiuns, nas mais diversas partes do nosso planeta e foram codificados por Allan Kardec.
Kardec nasceu na cidade de Lyon, na França, a 3 de outubro de 1804, tendo sido batizado com o nome Hippolyte Leon Denizard Rivail.
Recebeu sólida instrução, concluindo seus estudos no famoso Instituto Peztalozzi, em Yverdun, na Suíça.
Em Paris, após bacharelar-se em Ciências e Letras, tornou-se conceituado Mestre, lecionando química, física, matemática e astronomia; escreveu diversos livros didáticos e foi membro de várias academias de sábios, inclusive da famosa Academia Real D’Arras.
Quando, na Europa, na metade do século XIX, os fenômenos espirituais se tornaram “jogos de salão”, Rivail resolveu investigá-los, acreditando tratar-se de fraude. Mas as provas que obteve da presença de espíritos responsáveis por tais fenômenos foram tão contundentes que teve de aceitar os fatos.
Com o auxílio de médiuns, em grande parte adolescentes, foi elaborando perguntas aos espíritos e anotando as respostas, abordando as mais intrincadas questões de seu tempo e recebendo esclarecimentos para as mais dramáticas indagações da alma humana, quanto ao seu passado, presente e futuro, e quanto à vida, o universo e as leis que a tudo regem.
Por essa época Rivail também passou a receber, das mais diversas e distantes partes da Terra, cartas com mensagens dos espíritos, contendo explicações semelhantes às que eram recebidas
Então, com todo esse material em mãos, passou a organizar as questões por assuntos: As Causas Primárias, Mundo Espírita ou dos Espíritos, As Leis Morais e Esperanças e Consolações. Às respostas dos espíritos foi acrescentando seus próprios comentários e observações, num formidável trabalho de codificação. Tudo isso foi enfeixado no O Livro dos Espíritos, que foi publicado em Paris, em 18 de abril de 1857.
Como Rivail era conhecido e respeitado, não só pelo seu caráter, mas também como emérito professor e autor de inúmeras obras didáticas, ao publicar O Livro dos Espíritos preferiu fazê-lo usando o pseudônimo Allan Kardec. Esse nome, conforme lhe foi revelado, ele usara numa de suas encarnações quando fora sacerdote druida.
Em seguida vieram a lume O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Esses cinco livros formam a codificação da Doutrina Espírita.
O Espiritismo, assim codificado, representa verdadeiro universo de informações e novos conhecimentos, que mostram a vida e a evolução por um ângulo mais amplo, cujos mecanismos são verdadeiramente justos, sábios e perfeitos, e “se casam” com tudo o que experienciamos em nosso cotidiano. Eles nos dão paz, serenidade, esperança e consolo. Nos permitem perceber como tudo tem explicação coerente e justa.
A Doutrina Espírita nos ensina uma conduta mais saudável para a mente e o corpo, e uma ética de vida mais compatível com nossas necessidades evolutivas.
PERGUNTA NATURAL
Por que o Espiritismo tem encontrado tanta rejeição e até mesmo perseguição?
Em todas as épocas sempre houve granítica rejeição a novas idéias, principalmente quando vinham desestruturar antigos paradigmas. Com o Espiritismo não poderia ser diferente.
Além disso, o conhecimento espírita vinha jogar por terra o poder religioso, contrariando fabulosos interesses, ancorados em poderosas estruturas. Isto porque veio proclamar que não são as religiões que salvam, mas apenas e exclusivamente a conduta de cada um. Veio informar também que não existe salvação, porque ninguém está perdido, mas há a reencarnação e a lei de causa e efeito, cujas engrenagens conduzem os seres à evolução, mostrando ainda, que cada pessoa é a única responsável por seu presente e pelo seu futuro.
Mas o Espiritismo não é uma religião, considerando-se que esse termo pressupõe dogmas, sacerdócio, culto, rituais, sacramentos, obrigações, adoração, etc..
As religiões cristãs pregam a divindade de Jesus e sua condição de “único Senhor e Salvador”, aquele que, com seu “sacrifício”, com o “derramamento do seu sangue”, possibilitou a “salvação” dos homens que nele cressem e fossem em seu nome batizados.
No Espiritismo não há dogmas, sacerdócio, cultos, rituais, sacramentos, obrigações, adorações. É formado pelo tripé Ciência, Filosofia e Moral, firmemente assentados sobre a religiosidade e a ética ensinada por Jesus. Informa que Jesus não é Deus, conforme fica muito claro nos Evangelhos, mas, sim, um espírito de elevada hierarquia, que veio ao mundo para promover mais um passo na evolução do homem, ensinando-lhe o amor, como lei maior.
PERGUNTA NATURAL
Qual é a diferença entre religião e religiosidade?
Religião é algo criado pelos homens, com todas as suas idiossincrasias e de acordo com o entendimento de seus criadores.
Religiosidade é aquele sentimento, aquela condição interior, que leva a pessoa a crer num ser superior, em quem se pode confiar, e a quem se deve obedecer, através dos ditames da própria consciência; que lhe dá alento, esperança, confiança e proporciona júbilo. É a religiosidade e não a religião que pode levar alguém ao êxtase.
A religiosidade se manifesta em cada um de acordo com seu próprio grau evolutivo, embora muitas vezes esteja encoberto pela indiferença, a descrença e por conceitos materialistas.
Num ser primitivo, ela pode mesclar-se ao medo e às mais diversas superstições e interesses, em virtude de seu pouco entendimento, sua pouca evolução.
Religiosidade é luz interior. Não pode ser confundida com essa busca desenfreada e desesperada pelas religiões, que acontece ultimamente, movida principalmente pelo medo ou por algum tipo de interesse.
PERGUNTA NATURAL
Que tipo de interesses pode levar alguém a procurar uma religião?
São os mais variados interesses que levam as pessoas a procurarem uma religião, desde os meramente materiais, como desejo de conseguir um emprego, um bem, uma promoção, melhor “status”, sucesso e prosperidade, até aqueles outros de natureza espiritual, que variam de acordo com a crença de cada um: desejo de livrar-se do Inferno; conseguir um “melhor lugar” no céu, ou no mundo espiritual; tornar-se pupilo predileto de algum santo das suas devoções; limpar-se do pecado, para que Jesus possa levá-lo ao Céu, quando de sua segunda vinda à Terra; sentir-se protegido e amparado por algum ser superior, etc.
O elenco de interesses é imensamente variado, e quando um “fiel”, movido por qualquer tipo de interesse, deixa de ser atendido em suas pretensões, fica-lhe difícil manter viva a sua fé.
Há também aqueles que seguem a tradição. Nasceram numa religião e nela permanecem.
No mundo cristão, apenas uma minoria procura uma religião visando unicamente nutrir a própria religiosidade, ou dedicar-se ao que possa entender como uma tarefa missionária.
Se pensarmos a questão religiosa com mais liberdade mental, sem preconceitos, podemos concluir que o futuro das religiões está na religiosidade e não nos formatos religiosos.
Também é fácil entender que não existe uma religião certa, verdadeira ou legítima, porque em todas elas, apesar dos interesses, também há sinceridade, há verdade, há Deus, mas com interpretações diferentes.
Quanto ao Espiritismo, não há nele hierarquias nem sacerdotes. Para quê intermediários entre a criatura e o Criador, se eles também são tão imperfeitos quanto qualquer ser humano?
Em seus ensinos, Jesus sempre apresentou cada pessoa como a única responsável por si mesma, não por graças de qualquer natureza, mas tão-somente pelas atitudes, omissões e ações vivenciadas no cotidiano.
Allan Kardec ao codificar a doutrina dos espíritos não pretendia criar mais uma religião. Evitava até usar esta palavra, vendo no espiritismo uma ciência e uma filosofia com conseqüências morais.
Kardec estabeleceu três critérios para a aceitação dos ensinamentos dos espíritos: a universalidade das suas informações, a sua utilidade e racionalidade.
O famoso astrônomo francês, Camille Flammarion, ao discursar no enterro de Kardec, disse que ele fora, (ou era, já que não havia morrido, mas sim desencarnado) "o bom senso encarnado", tal a sua lucidez e equilíbrio ao tratar de temas tão profundos e complexos.
Fonte: www.mundoespiritual.com.br
FATOS DA VIDA DE ALLAN KARDEC
Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu em Lyon, na França, em 03 de outubro de 1804, sendo filho de Jean Baptiste-Antoine Rivail, juiz, e Jeanne Duhamel.
Fez em Lyon os seus primeiros estudos e em 1815, aos 11 anos, foi estudar no Instituto de Educação de Yverdum, na Suíça, com o célebre professor Pestalozzi, que utilizava um método avançado de pedagogia, onde a criança é seu próprio agente de aprendizado.
Muitíssimas vezes, quando Pestalozzi era chamado para fundar institutos semelhantes ao de Yverdun, confiava a Denizard Rivail o encargo de o substituir na direção da sua escola. Rivail era bacharel em letras e em ciências e doutor em Medicina, tendo feito todos os estudos médicos e defendido brilhantemente sua tese. Lingüista admirável, conhecia a fundo e falava corretamente o alemão, o inglês, o italiano e o espanhol; conhecia também o holandês, e podia facilmente exprimir-se nesta língua.
Denizard Rivail era um alto e belo rapaz, de maneiras distintas, humor jovial na intimidade, bom e gentil, que em 1822 mudou-se para Paris
Em 1826, na rua de Sèvres n° 35, fundou a Instituição Rival, um instituto técnico com base no modelo de Yverdum, em sociedade com um tio materno.
Em 6 de fevereiro de 1832 casou-se com a professora primária de letras e belas artes Amélie Gabrielle Boudet, pequena, mas bem proporcionada, gentil e graciosa, rica por seus pais e filha única, inteligente e viva. Ela era nove anos mais velha que ele, mas na aparência dir-se-ia ter menos dez que ele.
O sócio de Rivail, após perder grandes quantias no jogo, inviabilizou a continuidade da Instituição Rival que foi liquidada em 1834. A quantia que coube a Rival ele entregou a um amigo negociante, que veio a falir. Sem dinheiro, Rivail empregou-se como contabilista em três casas comerciais e à noite escrevia gramáticas, aritméticas, livros para estudos pedagógicos superiores; traduzia obras inglesas e alemãs e preparava todos os cursos de Levy-Alvarès, freqüentados por discípulos de ambos os sexos do faubourg Saint-Germain. Organizou também em sua casa, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de química, física, astronomia e anatomia comparada, de 1835 a 1840, e que eram muito freqüentados.
Membro de várias sociedades sábias, notadamente da Academia Real d'Arras, foi premiado, por concurso, em 1831, pela apresentação da sua notável memória: Qual o sistema de estudo mais em harmonia com as necessidades da época?
Dentre as suas numerosas obras convém citar, por ordem cronológica: Plano apresentado para o melhoramento da instrução pública, em 1828; em 1824, segundo o método de Pestalozzi, ele publicou, para uso das mães de família e dos professores, o Curso prático e teórico de aritmética; em 1831 fez aparecer a Gramática francesa clássica; em 1846 o Manual dos exames para obtenção dos diplomas de capacidade, soluções racionais das questões e problemas de aritmética e geometria; em 1848 foi publicado o Catecismo gramatical da língua francesa; finalmente, em 1849, encontramos o Sr. Rivail professor no Liceu Polimático, regendo as cadeiras de Fisiologia, Astronomia, Química e Física. Em uma obra muito apreciada resume seus cursos, e depois publica: Ditados normais dos exames na Municipalidade e na Sorbona; Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas.
Tendo sido essas diversas obras adotadas pela Universidade de França, e vendendo-se abundantemente, pôde o Sr. Rivail conseguir, graças a elas e ao seu assíduo trabalho, uma modesta abastança. Seu nome era conhecido e respeitado, seus trabalhos justamente apreciados.
Foi em 1854 que Rivail ouviu, do senhor Fortier, magnetizador, acerca das mesas girantes. No ano seguinte - era no começo de 1855 - encontrou o senhor Carlotti, um amigo de há vinte e cinco anos, que discorreu acerca desses fenômenos durante muito tempo, com bastante entusiasmo. Em maio de 1855, Rival esteve na casa da sonâmbula Sra. Roger, com o Sr. Fortier, seu magnetizador. Lá encontrou o Senhor Pâtier e a senhora Plainemaison, que falaram desses fenômenos.
O senhor Pâtier era funcionário público, homem muito instruído, de caráter grave, frio e calmo; com sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, levou Rivail a aceitar o convite para assistir às experiências que se realizavam em casa da Sra. Plainemaison, rua Grange-Batelière n° 18, às 20 horas da noite. Foi aí, pela primeira vez, que Rivail testemunhou o fenômeno das mesas girantes.
Na casa do senhor Baudin Rivail fez seus primeiros estudos sérios em Espiritismo. Aplicou a essa nova ciência, o método da experimentação; nunca formulou teorias preconcebidas; observava atentamente, comparava, deduzia as conseqüências; dos efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão.
Um dos primeiros resultados das observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber era limitado ao grau do seu adiantamento, e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal.
A princípio Rivail, longe de ser um entusiasta dessas manifestações e absorvido por outras preocupações, esteve a ponto de as abandonar, o que talvez tivesse feito se não fossem as solicitações dos Srs. Carlotti, René Taillandier, membro da Academia das Ciências, Tiedeman-Manthèse, Sardou, pai e filho, e Diddier, editor, que acompanhavam havia cinco anos o estudo desses fenômenos e tinham reunido cinqüenta cadernos de comunicações diversas, que não conseguiam pôr em ordem. Conhecendo as vastas e raras aptidões de síntese do Sr. Rivail, esses senhores lhe enviaram os cadernos, pedindo-lhe que os organizasse.
Rivail estudou muito, fez muitas perguntas aos espíritos. Uma noite, seu Espírito protetor, Z., deu-lhe, por um médium, uma comunicação toda pessoal, na qual lhe dizia, entre outras coisas, tê-lo conhecido em uma anterior existência, quando, ao tempo dos Druidas, viviam juntos nas Gálias. Ele se chamava, então, Allan Kardec, e, prometia-lhe esse Espírito auxiliá-lo na tarefa de organizar os ensinamentos dos espíritos. Rivail comparecia a cada sessão com uma série de questões preparadas e metodicamente dispostas que eram respondidas com precisão, profundeza e de modo lógico.
E foi da comparação e da fusão de todas essas respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes refeitas no silêncio da meditação, que formou a primeira edição de O Livro dos Espíritos, a qual apareceu em 18 de abril de 1857.
Esse livro era em formato grande, em duas colunas, uma para as perguntas e outra, em frente, para as respostas. No momento de publicá-lo, Rivail ficou muito embaraçado em resolver como o assinaria, se com o seu nome ou com um pseudônimo. Sendo o seu nome muito conhecido do mundo científico, em virtude dos seus trabalhos anteriores, e podendo originar uma confusão, talvez mesmo prejudicar o êxito do empreendimento, ele resolveu assinar com o nome de Allan Kardec que, segundo lhe revelara o guia, ele tivera ao tempo dos Druidas.
A obra alcançou tal êxito que a primeira edição foi logo esgotada. Allan Kardec reeditou-a em 1858 sob a forma atual, revista e aumentada.
No dia 25 de março de 1856 estava Allan Kardec em seu gabinete de trabalho, em via de compulsar as comunicações e preparar O Livro dos Espíritos, quando ouviu pancadas repetidas; procurou, sem descobrir, a causa delas, e em seguida continuou seu trabalho. Sua mulher, ao chegar, ouviu os mesmos ruídos; ambos procuraram, mas sem resultado, de onde podiam eles provir.
"No dia seguinte, sendo dia de sessões em casa do Sr. Baudim, escreve Allan Kardec, contei o fato e pedi a explicação dele.
- Ouvistes o fato que acabo de narrar; podereis dizer-me a causa dessas pancadas que se fizeram ouvir com tanta insistência?
- Era o teu Espírito familiar.
- Com que fim, vinha ele bater assim?
- Queria comunicar-se contigo. - Poderei dizer-me o que queria ele?
- Podes perguntar a ele mesmo, porque está aqui.
- Meu Espírito familiar, quem quer que sejais, agradeço-vos terdes vindo visitar-me. Quereis ter a bondade de dizer-me quem sois? - Para ti chamar-me-ei a Verdade, e todos os meses, durante um quarto de hora, estarei aqui, à tua disposição. - Ontem, quando batestes, enquanto eu trabalhava, tínheis alguma coisa de particular a dizer-me?
- O que eu tinha a dizer-te era sobre o trabalho que fazias; o que escrevias me desagradava e eu queria fazer-te parar.
NOTA - O que eu escrevia era precisamente relativo aos estudos que fazia sobre os Espíritos e suas manifestações.
- A vossa desaprovação versava sobre o capítulo que eu escrevia, ou sobre o conjunto do trabalho?
- Sobre o capítulo de ontem: faço-te juiz dele. Torna a lê-lo esta noite; reconhecer-lhe-ás os erros e os corrigirás.
- Eu mesmo não estava muito satisfeito com esse capítulo e o refiz hoje. Está melhor?
- Está melhor, mas não muito bom. Lê da terceira à trigésima linha e reconhecerás um grave erro.
- Rasguei o que tinha feito ontem.
- Não importa. Essa inutilização não impede que subsista o erro. Relê e verás.
- O nome de Verdade que tomais é uma alusão à verdade que procuro?
- Talvez, ou, pelo menos, é um guia que te há de auxiliar e proteger.
- Posso evocar-vos em minha casa? - Sim, para que eu te assista pelo pensamento; mas, quanto a respostas escritas em tua casa, não será tão cedo que as poderás obter.
- Podereis vir mais freqüentemente que todos os meses?
- Sim; mas não prometo senão uma vez por mês, até nova ordem.
- Animastes alguma personagem conhecida na Terra?
- Disse-te que para ti eu era a Verdade, o que da tua parte devia importar discrição; não saberás mais que isto." (A Gênese)
De volta a casa, Rivail releu o que havia escrito e verificou que, realmente, tinha cometido grave erro, corrigindo-o em seguida.
A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas foi fundada a 1° de abril de 1858. Antes, as reuniões se realizavam na casa de Allan Kardec, à rua dos Mártires, com E. Dufaux, como principal médium.
A Sociedade foi, então, regularmente constituída e reunia-se todas as terças-feiras, no local que fora alugado no Palais-Royal, galeria Valois. Aí ficou durante um ano, de 1° de abril de 1858 a 1° de abril de 1859. Não podendo lá permanecer por mais tempo, reunia-se todas as sextas-feiras em um dos salões do restaurante Douix, no Palais-Royal, galeria Montpensier, de 1° de abril de 1859 a 1° de abril de 1860, época em que se instalou em sede própria, na rua e passagem Sant'Ana n° 59.
"Procuramos neste trabalho, fruto de longa experiência e de laboriosos estudos, esclarecer todas as questões que se prendem à prática das manifestações; ele contém, de acordo com os Espíritos, a explicação teórica dos diversos fenômenos e condições em que eles se podem produzir; mas a parte concernente ao desenvolvimento e ao exercício da mediunidade foi, sobretudo, de nossa parte, objeto de atenção toda especial."
Em abril de 1864 publicou a Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo, com a explicação das máximas morais do Cristo, sua aplicação e sua concordância com o Espiritismo. O título dessa obra foi depois modificado, e é hoje O Evangelho segundo o Espiritismo.
No dia 1° de agosto de 1865, Allan Kardec fez aparecer uma nova obra - O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo, na qual são mencionados numerosos exemplos da situação dos Espíritos, no mundo espiritual e na Terra, e as razões que motivaram essa situação.
Em 1867 Kardec fez uma viagem a Bordéus, Tours e Orleans; em seguida publicou, em janeiro de 1868, A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo, que constitui, sob o ponto de vista científico, a síntese dos quatro primeiros volumes já publicados.
Hippolyte-Léon-Denizard Rivail - Allan Kardec - faleceu em Paris, na Rua Sant'Ana, 59, em 31 de março de 1869, na idade de 65 anos, da ruptura de um aneurisma.
Rivail, embora apareça sempre sério nas gravuras que o representam, gostava de rir com um riso franco, largo e comunicativo, era bem humorado, além de ser um trabalhador incansável. Por ter organizado os ensinamentos dos espíritos em livros, Allan Kardec é chamado de Codificador do Espiritismo.